sexta-feira, 31 de julho de 2009

Governo de Honduras

Governo interino suspende toque de recolher na maior parte de Honduras


O governo interino de Honduras suspendeu nesta sexta-feira na maior parte do país o toque de recolher de várias horas por dia que vigorava praticamente sem interrupção desde a deposição do presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho. A medida coincide com um aumento da repressão à manifestações de rua em favor do líder deposto.
"Decidiu-se estabelecer o toque de recolher em todos o limites do departamento de El Paraíso" e em outros cinco pontos da fronteira com a Nicarágua, informou o Executivo em comunicado emitido em rede nacional. "Para o resto do território nacional, fica suspenso o toque de recolher", acrescentou.
Em El Paraíso e nos municípios de San Marcos de Colón, Duyure, Concepción de María e El Triunfo, e na passagem de Guasaule, todos na fronteira com a Nicarágua --onde está o presidente deposto, acompanhado de um grupo de seguidores--, a medida restritiva da liberdade de circulação foi decretada entre 18h de hoje e 6h de amanhã (21h de hoje e 9h de sábado).
O toque de recolher foi estabelecido no dia em que Zelaya foi detido e expulso do país e o até então presidente do Congresso, Roberto Micheletti, foi nomeado presidente interino.
A medida tinha sido suspensa em 12 de julho em todo o país, mas restabelecida quatro dias depois, quando organizações sociais aliadas ao líder deposto pediram para ocupar "pontos estratégicos" para exigir seu retorno a Honduras.
No departamento de El Paraíso tinha sido estabelecido um toque de recolher ampliado em relação ao resto do país, onde se limitava nos últimos dias a três horas e meia da noite, desde que na sexta-feira da semana passada Zelaya anunciou sua intenção de retornar ao país desde a Nicarágua.
A suspensão acontece um dia depois de uma repressão policial a manifestações que deixou ao menos seis pessoas feridas, uma delas gravemente. O presidente interino disse nesta quinta-feira que seu governo não vai tolerar bloqueios de ruas que regularmente têm complicado o tráfego em Tegucigalpa e em outras cidades. Mas nesta sexta-feira, cerca de três mil hondurenhos foram às ruas em Tegucigalpa protestando contra o governo interino e exigindo a restituição do presidente deposto.
Os manifestantes, principalmente professores, sindicalistas e camponeses, percorriam pacificamente uma das ruas da cidade em direção à sede do Congresso, no centro da capital. A mulher de Zelaya, Xiomara Castro, participou do protesto. Nesta quinta-feira (30), ela voltou à capital partindo da zona fronteiriça com a Nicarágua, após desistir de tentar se reunir com o marido, que prepara no país vizinho uma "resistência" contra o governo interino.
Em um protesto separado, a polícia lançou gás lacrimogêneo e prendeu apoiadores de Zelaya que bloqueavam uma das principais estradas de acesso à capital hondurenha nesta sexta-feira. Daniel Molina, porta-voz da polícia, disse que uma pessoa ficou ferida e que várias foram presas.
Sem retorno
Após dias de sinais divergentes, o presidente interino de Honduras afirmou claramente nesta quinta-feira que não aceitará de forma alguma a volta do presidente deposto. O regresso de Zelaya ao poder, à frente de um governo de coalizão, é o principal ponto da proposta de conciliação feita pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias. O mediador da crise também se manifestou a favor de uma anistia para todos os envolvidos na deposição de Micheletti e a antecipação em um mês das eleições presidenciais de novembro.
Nesta quinta-feira, um membro do governo interino disse a agências internacionais de notícia, sob condição de anonimato, que Micheletti estaria disposto a negociar a volta do presidente deposto, o próprio presidente interino disse aos jornalistas na quinta-feira à noite que Zelaya poderia voltar a Honduras apenas para ser julgado por abuso de poder e outras acusações feitas contra ele.
"Sob nenhuma circunstância vamos deixá-lo tomar posse do governo", disse Micheletti.
O governo interino aparentemente aposta em ganhar tempo, atrasando uma decisão sobre a proposta de conciliação de Arias, enquanto tenta formar uma missão com representantes de países como Colômbia e Canadá para que ajudem a solucionar a crise política ou deem, ao menos, uma aparência de aceitação internacional ao processo de eleição do próximo presidente --a OEA já informou que não reconhecerá um presidente eleito antes do retorno de Zelaya ao poder.
Na comitiva proposta, se destaca o ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, informou o governo Micheletti, na quinta-feira.

Histórico
Zelaya foi deposto nas primeiras horas do dia 28 de junho, dia em que pretendia realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais que havia sido considerada ilegal pela Justiça. Com apoio da Suprema Corte e do Congresso, militares detiveram Zelaya e o expulsaram do país, sob a alegação de que o presidente pretendia infringir a Constituição ao tentar passar por cima da cláusula pétrea que impede reeleições no país.
O presidente deposto, cujo mandato termina no início do próximo ano, nega que pretendesse continuar no poder e se apoia na rejeição internacional ao que é amplamente considerado um golpe de Estado --e no auxílio financeiro, político e logístico do presidente venezuelano, Hugo Chávez-- para desafiar a autoridade de Micheletti e retomar o poder.
Isolado internacionalmente, o presidente interino resiste à pressão externa para que Zelaya seja restituído e governa um país aparentemente dividido em relação à destituição, mas com uma elite política e militar --além da cúpula da Igreja Católica-- unida em torno da interpretação de que houve uma sucessão legítima de poder e de que a Presidência será entregue apenas ao presidente eleito em novembro --as eleições estavam marcadas antes da crise.

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