quarta-feira, 8 de julho de 2009

Uganda proibirá mutilação

Uganda proibirá mutilação da genitália feminina

De acordo com o dicionário Aurélio, o verbo “mutilar” quer dizer “privar [alguém ou a si mesmo] de algum membro ou de alguma parte do corpo”. Mas a depender do lugar e da cultura, essa palavra pode adquirir muitos outros significados. No caso das mulheres que têm a genitália arrancada, por exemplo, é sinônimo de um sofrimento inominável. Trata-se de uma sentença a uma vida inteira sem qualquer sensibilidade, com o corpo deformado e sem prazer.

Muito criticada pelo Ocidente, a prática permanece viva em alguns rincões do planeta, principalmente na África. “Não mais em Uganda”, anunciou o presidente Yoweri Museveni. Ele informou hoje à imprensa que o Parlamento do país aprovará, em breve, uma lei que proíbe a mutilação da genitália feminina.

“Vocês interferem na obra de Deus. Alguns dizem que é cultura. Sim, apóio a cultura, mas vocês devem apoiar uma cultura que seja útil e baseada em informação científica”, declarou Museveni, referindo-se às tribos que vêem nesse ato um ritual imprescindível. Conforme noticiaram agências internacionais, o presidente também lembrou que a Organização das Nações Unidas aprovou no ano passado uma resolução determinando que essa prática viola os direitos das mulheres e aumenta o risco de contrair HIV, assim como as taxas de mortalidade materna e infantil.

Recentemente li a biografia da ex-deputada naturalizada holandesa Ayaan Hirsi Ali, Infiel. Nascida e criada na Somália, a autora teve seu clitóris mutilado ainda jovem, por ordem da avó materna. A narrativa que ela faz da cena é uma das descrições mais impressionantes e chocantes que já vi. Do corte inicial sem qualquer anestesia até a primeira vez que ela urina após o procedimento, fiquei atenta, apreensiva, com os olhos cheios de lágrimas.

Não há qualquer poesia ou romantismo nisso. É a realidade mais dura, colocada diante do leitor a sangue frio. Uma violência que, segundo dados da ONU, já afetou em 100 milhões e 140 milhões de mulheres em todo o mundo. Espero que Uganda consiga de fato discutir a diferença entre cultura e mutilação e que ecoe isso para os quatro cantos do planeta.

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