segunda-feira, 25 de abril de 2011

União Europeia pede "reformas profundas" após violência na Síria

Após a morte de mais de 80 manifestantes na sexta-feira (22) e de ao menos nove pessoas que acompanhavam seus funerais neste sábado na Síria, a União Europeia (UE) classificou a repressão no país como "intolerável" e pediu "reformas profundas" ao regime do ditador Bashar al Assad, cuja renúncia é reivindicada pelos protestos.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, condenou neste sábado os atos "intoleráveis" de violência na Síria e considerou "essencial" que Damasco inicie reformas políticas.

O governo sírio deve "parar imediatamente de recorrer à força brutal contra os manifestantes" e começar a "respeitar seu direito de protestar", disse.

Os tiros contra os manifestantes "são intoleráveis", destacou a Alta Representante da UE para Relações Exteriores, ao afirmar que "todos os responsáveis pelos crimes deverão ser levados à justiça".

Apesar do anúncio da suspensão do estado de emergência na Síria, "reformas confiáveis só poderão ser medidas com verdadeiros progressos no terreno".

"Peço ao governo sírio que realize reformas políticas profundas, começando pelo respeito aos direitos mais elementares, às liberdades fundamentais e ao Estado de direito".

MORTOS

Tropas de segurança do ditador sírio Bashar Assad abriram fogo contra milhares de participantes das procissões dos funerais de rebeldes neste sábado, matando no mínimo nove pessoas. Em protesto, dois deputados sírios também renunciaram.

Os disparos teriam ocorrido em dois funerais: em Douma (perto da capital Damasco) e no vilarejo de Izraa. No primeiro, quatro teriam sido mortos pelas forças de segurança sírias. Já em Izraa, cinco pessoas teriam morrido, de acordo com ativistas de direitos humanos.

Efe
Milhares foram às ruas em Homs durante os funerais dos mais de 80 mortos pelas tropas de segurança da Síria
Milhares foram às ruas em Homs durante os funerais dos mais de 80 mortos pelas tropas de segurança da Síria

Segundo testemunhas, cerca de 50 mil participaram dos dois funerais. Não se pôde confirmar o relato porque a Síria expulsou e restringiu o acesso de jornalistas ao país. A testemunha falou sob condição de anonimato por temer represálias.

A renúncia dos parlamentares Nasser Hariri e Khalil Rifai ocorreu para protestar contra a sangrenta repressão das manifestações contra o regime. Ambos alegaram frustração por não poder proteger os eleitores.

CONFRONTOS

Entre hoje e ontem, 120 pessoas teriam morrido, no período mais sangrento desde que começaram as manifestações contra o regime sírio, segundo segundo a ONG Organização Nacional por Direitos Humanos da Síria.

Segundo ativistas da oposição, algumas áreas de Damasco amanheceram cercadas pelo Exército e a polícia, enquanto na cidade central de Homs as autoridades rejeitam entregar os cadáveres a suas famílias até que estas digam à televisão que grupos de salafistas mataram seus filhos.

Associated Press
Imagem de celular feita por militantes mostra bandeira da Síria coberta de sangue; nove morreram no sábado
Imagem de celular feita por militantes mostra bandeira da Síria coberta de sangue; nove morreram no sábado

Não houve pronunciamentos do governo de Damasco sobre os distúrbios.

De acordo com organismos de direitos humanos, cerca de 300 pessoas morreram desde que, em meados de março, se intensificaram os protestos políticos na Síria, que começaram em fevereiro.

Associated Press
Imagem feita pelos militantes mostra centenas nas ruas na Síria; oposição diz que 50 mil foram aos funerais
Imagem feita pelos militantes mostra centenas nas ruas na Síria; oposição diz que 50 mil foram aos funerais

EUA E FRANÇA CONDENAM

Em reação ao dia mais sangrento da repressão síria aos protestos, o presidente americano Barack Obama pediu o fim "imediato" dos confrontos e condenou o "recurso ultrajante à violência" utilizado pelo governo de Al Assad pra conter as manifestações e apontou ajuda de Teerã a Damasco.

"Este ultrajante uso da violência para conter os protestos precisa ser interrompido imediatamente. Ao invés de ouvir seu próprio povo, Assad está culpando outros enquanto busca auxílio do Irã para reprimir os cidadãos da Síria por meio das mesmas técnicas brutais que já foram usadas pelos aliados iranianos", disse.

Confrontos na Síria deixam mais 4 mortos; vítimas chegam a 352

Quatro pessoas morreram e várias ficaram feridas neste domingo em confrontos com as forças de segurança em Jable, perto de Latakia, no noroeste da Síria, informou um porta-voz do Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres.

O novo governador da região visitou a cidade e, depois de sua visita, as forças de ordem cercaram a cidade e começaram a disparar, completou o porta-voz.

Até agora, não tinham sido registradas vítimas fatais neste domingo, depois de dois dias sangrentos durante os quais a repressão às manifestações contrárias ao regime do presidente sírio Bashar al Assad deixou ao menos 120 mortos, segundo uma lista nominativa do Comitê de Mártires da Revolução de 15 de março.

Com essas quatro mortes, o balanço de vítimas desde o início do movimento de contestação em 15 de março sobe para 352 mortos, segundo as cifras recolhidas pela AFP.

Pouco depois do anúncio das mortes em Jable, em torno de 3.000 moradores de Banias, cidade localizada a cerca de 50 km de Latakia, organizaram em solidariedade uma manifestação na estrada que une Latakia a Damasco, segundo a mesma fonte.

Os manifestantes, que pediam o cessar dos disparos das forças de segurança em jable, afirmaram que não levantariam o bloqueio da estrada enquanto não tivessem suas demandas atendidas.

Bombardeio da Otan destrói complexo residencial de Gaddafi em Trípol

Aviões da Otan bombardearam na madrugada desta segunda-feira a cidade de Trípoli atingindo um grande prédio do complexo onde reside o ditador líbio Muammar Gaddafi, destruindo totalmente a instalação.

Segundo informações da agência France Presse, as detonações tiveram uma força inédita no centro da cidade e fizeram tremer o hotel onde estão os correspondentes da imprensa estrangeira em Trípoli.

Os ataques, avaliados pelo governo líbio como uma tentativa de assassinato de Gaddafi, ocorreram por volta da 00h10 local (19h10 em Brasília) em vários bairros da cidade.

Segundo a imprensa oficial, 45 pessoas ficaram feridas pelos bombardeios, 15 delas em estado grave.

Três emissora de televisão locais --TV Líbia, Jamahiriya e Shababiya-- ficaram cerca de meia-hora fora do ar após os bombardeios.

Louafi Larbi /Reuters
Cena da animação "Rio", dirigida por Carlos Saldanha
Complexo residencial de Gaddafi fica destruído após bombardeio da Otan

A aviação da Otan retomou seus ataques à capital líbia na noite de sexta-feira, quando diversas explosões atingiram Bab al Aziziya.

No sábado, Tripoli foi alvo de ao menos dois bombardeios da Otan, às 19h45 (14h42 em Brasília) e às 22h40 local (17h40 em Brasília).

Os aviões da Aliança Atlântica também atacaram no sábado alvos nas cidades de Sirte, Al Joms, Al Assa e Gharyen, causando um "certo número de vítimas", segundo a agência oficial líbia Jana.

MISRATA

Ao menos 36 pessoas foram mortas em ataques na cidade de Misrata por forças leais a Gaddafi desde o último sábado, disse um porta-voz rebelde.

Segundo ele, oito pessoas foram mortas em bombardeios no domingo e 28 no sábado. Mais de 100 ficaram feridas durante o mesmo período, afirmou o porta-voz Safieddin.

"As brigadas de Gaddafi, usando foguetes Grad, fizeram bombardeios aleatórios no domingo. Eles alvejaram diversas áreas aqui. São oito mártires. Trinta e quatro pessoas também ficaram feridas", disse.

Soldados do governo capturados disseram que receberam ordens para recuar da cidade costeira depois de um sítio de quase dois meses. E os rebeldes que lutam para derrubar Gaddafi declararam a vitória na cidade no sábado.

"A situação é muito perigosa", disse o porta-voz dos rebeldes Abdelsalam por telefone de Misrata.

"As brigadas de Gaddafi começaram a bombardear a esmo de manhã bem cedo. O bombardeio continua. Eles alvejaram o centro da cidade, em especial a rua Trípoli e três áreas residenciais."

Ele não deu indicações do número de mortos. Centenas já morreram na luta por Misrata, a única cidade no oeste do país que está nas mãos dos rebeldes.

Com France Presse e Reuters