A INCONFIDÊNCIA MINEIRA OU CONJURAÇÃO MINEIRA
A Inconfidência Mineira,
ou Conjuração Mineira, é como ficou conhecida a revolta de caráter separatista
que estava sendo organizada na capitania das Minas Gerais no final do século
XVIII. Essa revolta foi organizada pela elite socioeconômica de Minas Gerais e
acabou sendo descoberta pela Coroa portuguesa antes de ser iniciada.
Antecedentes
A capitania de Minas
Gerais era a mais rica do Brasil, em razão da extração de ouro e diamantes na
região. A exploração trouxe uma enorme riqueza e fez Minas Gerais prosperar e
crescer. A atenção da Coroa portuguesa sobre sua capitania mais importante era
redobrada e, no século XVIII, a relação entre os habitantes da capitania e a
Coroa começou a demonstrar sinais de desgaste.Em 1720, por exemplo, aconteceu a
Revolta de Vila Rica, motivada pela insatisfação da população local com os
altos impostos cobrados pela Coroa. Outras revoltas aconteceram, mas não tinham
o objetivo de separar a capitania da Coroa portuguesa.Durante a administração
do Marquês de Pombal, Portugal aumentou os impostos cobrados no Brasil e
fortaleceu a insatisfação de Minas Gerais com a Coroa.*Durante a administração
do Marquês de Pombal, Portugal aumentou os impostos cobrados no Brasil e
fortaleceu a insatisfação de Minas Gerais com a Coroa.*A partir da segunda
metade do século XVIII, a política fiscal de Portugal em relação à colônia
tornou-se mais rígida. Portugal, governado pelo Marquês de Pombal, ordenou o
aumento da cobrança de impostos no Brasil como forma de financiar a
reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755. Isso contribuiu
para corroer a relação entre colonos e Coroa até o ponto de, na década de 1780,
começar a ser organizada uma conspiração.
Participantes
A Conjuração Mineira foi
uma conspiração organizada pela elite socioeconômica da
capitania das Minas Gerais. Nas palavras das historiadoras Lília Schwarcz e
Heloísa Starling, o grupo que formava os conspiradores da conjuração eram
pessoas que “tinham laços familiares, de amizade ou econômicos” que os
vinculavam com a “cúpula da sociedade das Minas”|.Elas também destacam
que, apesar de ser formado majoritariamente por membros da elite
socioeconômica, o grupo era composto por pessoas dos mais diversos ofícios,
tais como poetas, cônegos, engenheiros, médicos, militares, comerciantes etc.|2| O
membro da conspiração de situação econômica mais humilde era Joaquim
José da Silva Xavier, o TIRADENTES, comandante da tropa
que monitorava a estrada (Caminho Novo) que ligava o Rio de Janeiro a Minas
Gerais. Ele, por sua vez, foi um dos membros mais participativos da conjuração.
Causas
Como abordado brevemente,
a Inconfidência Mineira foi resultado da insatisfação da elite econômica da
capitania das Minas Gerais com a política fiscal imposta pela Coroa portuguesa.
Essa insatisfação existiu ao longo de todo o século XVIII, mas a partir da
década de 1780 ganhou força e ares de separatismo, dando uma nova dimensão a
esse movimento político.Não se sabe o momento preciso em que a elite das Minas
Gerais começou a conspirar contra a Coroa, mas se sabe que foi em algum ponto
da década de 1780. Os envolvidos com essa revolta tinham em mente que os impostos
cobrados por Portugal eram excessivos, mas também estavam imbuídos de outros
ideais – como a separação de Minas Gerais e sua transformação em uma
república.Lília Schwarcz e Heloísa Starling chamam atenção para um fato: a
conjuração foi resultado do ressentimento, mas também da percepção de que as
Minas Gerais tinham condições de existir sem a presença de uma Coroa
controladora. Eles tinham noção de que a capitania tinha condições econômicas
de se autossustentar.O estopim para a deflagração do movimento contra a Coroa
aconteceu durante as administrações de Luís da Cunha Meneses e do Visconde de
Barbacena, ambos governadores da capitania. O primeiro teve uma administração
corrupta que prejudicou interesses da elite local para favorecimento de seus
amigos pessoais.Já na administração do Visconde de Barbacena, foi enviada uma
ordem para realizar o cumprimento da cota de ouro anual, que era estipulada
pela Coroa. Para cumprir essa cota, foi autorizada a realização da “derrama”, a
cobrança obrigatória com o objetivo de alcançar as cem arrobas de ouro. Isso
causou indignação porque a economia local estava em crise, em virtude da queda na
quantidade de ouro extraído.A possibilidade de uma derrama alarmou a elite
local e antecipou os preparativos para uma revolta contra a Coroa. Os
conspiradores planejaram iniciar a revolta para o dia em que a derrama fosse
realizada. Um dos grandes propagandistas dessa conspiração foi Tiradentes.
O que defendiam os inconfidentes?
As reivindicações feitas
pelos inconfidentes eram variadas, mas, em geral, podem ser resumidas nos
seguintes pontos:
Proclamação de uma
república aos moldes dos Estados Unidos;
Realização de eleições
anuais;
Incentivo a instalação de
manufaturas como forma de diversificar a produção econômica das Minas Gerais;
Formação de uma milícia
nacional composta pelos próprios cidadãos das Minas Gerais.
Na questão do trabalho
escravo, não existia um consenso entre os inconfidentes. Assim, alguns
defendiam a libertação dos escravos, mas outros defendiam a permanência da
escravidão caso a capitania alcançasse sua independência.Os colonos pensavam em
realizar uma revolta em Vila Rica que depois se espalharia por toda a
capitania. Para ter sucesso nessa empreitada, os inconfidentes planejavam uma
guerra de desgaste que forçaria a Coroa portuguesa a negociar o fim das
hostilidades. Eles buscaram ajuda internacional de americanos e franceses e até
tiveram alguns acenos de apoio, mas que não se concretizaram em ações efetivas.
Como terminou a Inconfidência Mineira?
As reuniões secretas que organizavam e
divulgavam os princípios dessa revolta contra Portugal estenderam-se durante
anos, mas o movimento não chegou nem ao ponto de ser deflagrado. Isso porque,
antes mesmo de sua deflagração, denúncias levaram ao conhecimento da Coroa de
que uma conspiração acontecia.Em 18 de maio de 1789, alguns dos inconfidentes
foram informados de que a conspiração contra Portugal tinha sido descoberta. O
Visconde de Barbacena recebeu seis denúncias a respeito de uma conspiração em
curso nas Minas Gerais. A denúncia mais importante foi realizada por Joaquim
Silvério dos Reis.Silvério dos Reis estava envolvido com a conspiração e devia
grandes somas de dinheiro à Coroa portuguesa. Acabou denunciando o movimento
organizado pelos inconfidentes como uma forma de ter as suas dívidas perdoadas.
O relato de Silvério dos Reis deu todos os detalhes da estratégia da
inconfidência e permitiu que autoridades coloniais planejassem a repressão
contra os envolvidos.O Visconde de Barbacena ordenou a suspensão da derrama e
deu início às prisões e interrogatórios. Todo o processo de julgamento dos
presos por envolvimento na conspiração estendeu-se durante três anos e foi uma
demonstração de poder da Coroa como forma de desencorajar outras conspirações
do tipo.A leitura da sentença, conforme afirmação do historiador Boris Fausto,
estendeu-se por dezoito horas. As condenações foram as mais diversas e
incluíram penas como degredo (expulsão para a África), prisão perpétua,
condenação à forca etc. Vários dos envolvidos foram condenados por morte na
forca, mas d. Maria, rainha de Portugal, perdoou todos os condenados, menos um:
Tiradentes.
Tiradentes foi preso no
Rio de Janeiro, em maio de 1789. Sua morte foi utilizada como exemplo de
intimidação e ocorreu porque Tiradentes era o grande propagandista do
movimento. Quando preso, estava em viagem para divulgar a conspiração que
estava sendo organizada.
Tiradentes acabou sendo
enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. Foi esquartejado e
partes do seu corpo foram espalhadas pela estrada que ligava o Rio de Janeiro a
Minas Gerais. Sua cabeça foi colocada em exposição na praça central de Vila
Rica e lá permaneceria até apodrecer, mas acabou desaparecendo e não se sabe o
seu paradeiro até hoje.A Conjuração Mineira foi uma das mais importantes
revoltas organizadas contra a Coroa portuguesa e mostrou a disposição dos
colonos a romper o laço colonial e a existência de ideais republicanos no seio
da principal capitania brasileira. Poucos anos depois, foi a vez da Bahia
rebelar-se contra o domínio português na Conjuração Baiana.
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